Frei David debateu com Fenajud sobre o genocídio do povo negro e cobrou melhor formação dos juízes

Na última quinta-feira (28), a Fenajud (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados) realizou uma conversa – através de transmissão ao vivo nas redes sociais – com Frei David Santos, frade franciscano, ativista pela igualdade racial e coordenador da ONG Educafro, que promove ações de inclusão social, especialmente na educação, da população negra, sobretudo de jovens. O bate-papo teve como tema central o genocídio do povo negro. Frei David destacou que 55,8% da população brasileira é negra e que 80 em cada 100 jovens negros no Brasil estão desempregados nesse momento em que o país enfrenta a pandemia do coronavírus.

A Educafro, ressaltou Frei David, já acumula quatro décadas de luta em favor do povo negro e nos últimos anos tem se somado a entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e partidos políticos para defender causas junto aos tribunais superiores do poder Judiciário.

Atualmente, a principal batalha da ONG se dá contra o governo do Rio de Janeiro, através de uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no Supremo Tribunal Federal (STF), a ADPF 635, que denuncia a política de segurança pública do estado que “expõe os moradores de áreas conflagradas a profundas violações de seus direitos fundamentais”.

Apenas em 2019, argumentou Frei David, a polícia do Rio de Janeiro matou 1810 pessoas, em sua maioria negras. Até o momento, a ADPF obteve o voto favorável do ministro Luiz Fux e nenhum outro integrante da corte manifestou o seu voto. “A condenação [cobrada pela Educafro]consiste em várias coisas, entre elas uma série de políticas públicas que o governador cumpra para acabar com o extermínio do nosso povo negro”, explica o coordenador da ONG, que é parte da ação na condição de amicus curiae.

George Floyd

O assassinato de George Floyd em Minneapolis, Estados Unidos, na última segunda-feira (25), também foi abordado na conversa. Para Frei David, a sociedade capitalista mundial tem uma dificuldade enorme de respeitar o povo negro. “Os policiais brancos se sentem no direito de humilhar o negro”, apontou, além de lembrar que os agentes “foram até cínicos ao falar com os transeuntes” que questionavam a abordagem, dizendo que Floyd estava “curtindo” o fato de o policial estar com o joelho sobre o seu pescoço.

Frei David chamou atenção para o fato de que nos EUA foram assassinadas 1.014 pessoas negras pela polícia em 2019, enquanto no Brasil, no mesmo período, foram assassinadas 5.804 pessoas negras em ações policiais. Para ele, esses números demonstram o “racismo estrutural” da sociedade brasileira. “Os negros no Brasil são descendentes de um povo escravizado, que logo foram relegados a regiões de periferias e hoje brigam pelos piores empregos”, disse o ativista.

“O que nós queremos é pedir que a sociedade ajude a polícia brasileira de cada estado, principalmente do Rio e São Paulo, do Ceará, da Bahia… que tenham uma formação mais digna, mais honesta, de respeito à população negra”, acrescentou Frei David.

Formação dos juízes

O religioso falou da deficiência na formação de juízes do Brasil, categoria que não teria sensibilidade para a importância das políticas de ações afirmativas, como as cotas nas universidades e no serviço público.

“Fizemos um apelo para que as escolas de magistratura fizessem um trabalho de conscientização dos juízes. Os juízes estão despreparados para as demandas do povo negro. Isso é inaceitável num país como o Brasil, onde somos 55,8%. E as escolas de magistratura não debatem a realidade do negro na formação dos juízes”, lamenta o frade, que, por outro lado, lembrou a decisão unânime do STF, em junho de 2017, em favor da constitucionalidade das cotas para os concursos públicos.

Candidaturas negras e unidade

Falando sobre a criação do partido Frente Favela Brasil e do sistema partidário brasileiro em geral, o frade franciscano disse esperar das legendas de esquerda maior compromisso para apoio político e financeiro de candidaturas negras aos cargos eletivos. Além disso, cobrou uma unidade efetiva das esquerdas na oposição ao projeto de poder que comanda o governo federal na atualidade.

“Se não houver uma união séria das esquerdas, poderemos ter um outro doido, ou um menos doido, sendo eleito no lugar do Bolsonaro”, resumiu Frei Davi.

 

Assista à conversa:

https://www.youtube.com/watch?v=fd68XACLjmc

 

 

 

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