Pobres, mulheres e negros são mais impactados pela pandemia, revelam vários estudos

Pesquisas e estudos socioeconômicos têm revelado que o impacto da pandemia do coronavírus é maior sobre famílias e comunidades pobres, mulheres e a população negra. Esse fato é ainda mais evidente nos países da América Latina e da África. E o Brasil, que ultrapassou a cifra de 34 mil mortes, é um dos casos mais emblemáticos deste cenário.

Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), em entrevista à BBC News Brasil, afirmou que a América Latina poderá sofrer uma queda de 5,3% do PIB da região, a pior da história desde a crise do final da década de 1920.

Como consequência direta disso, mais de 30 milhões de pessoas na região podem ser empurradas para a pobreza e os impactos serão ainda maiores sobre as mulheres, que são vítimas do aumento da violência de gênero e da sobrecarga de tarefas domésticas, além do fato de mulheres serem maioria entre profissionais da saúde.

“Aumentou a pressão contra as mulheres nas casas. Ou porque têm que fazer home office ou porque o trabalho aumentou porque as crianças não estão indo ao colégio. Então, elas têm uma pressão dobrada. Além disso, existe a violência doméstica e esse é um assunto muito preocupante nessa pandemia”, disse Bárcena à BBC.

“Com o aumento de 186 milhões para 214 milhões de pobres, estamos falando de quase 30 milhões de pobres a mais na região. Nesse número, está incluída a pobreza extrema. A região tinha conseguido avançar, mas agora estamos preocupados porque estamos numa situação de retrocesso”, lamentou a funcionária da Cepal.

No mundo, o número de novos pobres poderia aumentar em 547 milhões de pessoas, segundo estimativas da ong britânica Oxfam, que considera pobre pessoas que tenham renda média diária de US$ 5,5 (mais ou menos R$ 30 no câmbio atual). Em função da pandemia, a quantidade de pessoas nessa condição poderia passar de 3,38 bilhões para 3,9 bilhões – mais da metade do planeta – nos próximos anos. Esse contingente equivale à soma das populações do Brasil e dos Estados Unidos.

“Os ministros das Finanças do G20, o FMI e o Banco Mundial devem dar aos países em desenvolvimento uma injeção imediata de capital para os ajudar a salvar as comunidades pobres e vulneráveis”, defende José Maria Vera, diretor-executivo da Oxfam Internacional.

Negros

A população negra no Brasil é maioria absoluta nas ocupações informais, numa proporção bem maior do que ocorre com brancos. A informalidade entre negros e pardos alcança 47,3% dos trabalhadores, enquanto entre brancos esse índice é de apenas 34,6%. Trabalhadores da economia informal sofrem ainda mais com a retração econômica causada pelo coronavírus.

Além disso, o trabalho doméstico também é majoritariamente composto por pessoas negras. Neste setor, o IBGE verificou, em levantamento divulgado na semana passada, que mais de 727 mil pessoas deixaram de trabalhar, uma aumento de 11,6% em relação ao trimestre anterior.

O aumento da fome e da insegurança alimentar em comunidades empobrecidas deve ser mais uma consequência trágica do coronavírus. Pesquisa do instituto DataFavela realizada já em março indica que “86% dos moradores de favelas vão passar fome por causa do coronavírus”, noticiou o El País.

Mortalidade e exclusão educacional

Uma pesquisa feita na cidade de São Paulo em abril mostrou que a letalidade do Covid-19 tende a ser 62% maior entre pretos e pardos do. A taxa de mortalidade verificada entre estes grupos foi, respectivamente, 15,64% e 11,88%. Já entre brancos, o índice foi de 9,67%. Os bairros mais periféricos também apresentaram o maior número mortos por cada 100 mil habitantes.

Outro problema que preocupa especialistas é o aumento da exclusão e da desigualdade educacional no aspecto racial. Reportagem da ong Porvir destaca que o risco de evasão do ensino médio por conta da pandemia do coronavírus deve aumentar entre estudantes negros. A maior exposição à contaminação, o racismo estrutural e as limitações socioeconômicas são fatores que contribuem para isso, alertaram especialistas ouvidos na matéria. Dados de 2018 mostram que 27% dos negros de 15 a 17 anos estavam fora da escola, ao passo que 19% dos brancos na mesma faixa etária encontravam-se nesta situação, que deve ser agravada em função do coronavírus.

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