Organizada pela ALBA Movimientos, Assembleia Internacional dos Povos (AIP), Confederação Sindical das Américas (CSA), Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), a Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo, bem como a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), a Jornada reuniu em Foz do Iguaçu, dias 22 e 23 de fevereiro, diversos movimentos sociais, em especial o MST, Marcha Mundial de mulheres, Estudantes, Centrais sindicais, Federações e Confederações, partidos políticos e mídias contra-hegemônicas.
O evento contou com a participação de representantes de 26 países da América latina, Caribe e outros, além de diversas autoridades desses territórios, com destaque para a vice-presidenta da Colômbia, Francia Marquez, o Ministro dos Direitos Humanos e cidadania, Silvio Almeida, o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, a Ministra da Secretaria da Presidência da Bolívia, Maria Nela Prada e do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, com destaque aos países que estão enfrentando duros ataques da extrema direita, a exemplo da Argentina, Venezuela, Haiti, Cuba e Palestina.
Foram dois dias de reflexões e debates acerca da conjuntura que vivem os povos desses países, frente a crise do capitalismo que assistimos há alguns anos, que tem trazido cada vez mais, miséria, fome e guerras, retirada de direitos dos trabalhadores, além da destruição gradativa do meio ambiente. Destaque-se também a ameaça à participação democrática da população, graças a manipulação das informações repassadas pela mídia e os ataques constantes e de várias formas promovidas pela extrema direita capitalista e neoliberal, especialmente com o advento das novas tecnologias.
Vários foram os desafios apontados pelos cerca de 4.000 militantes presentes na Jornada, entre eles, os sistematizados por Roberto Bagio, da coordenação nacional do MST:
- Retornar o trabalho de base permanente, a fim de alterar a correlação de forças na sociedade;
- Incentivo as iniciativas nacionais de empoderamento produtivo popular – cooperação agrícola nos territórios;
- Soberania alimentar aos países, com produção de alimentos saudáveis livres de agrotóxicos;
- Cuidar da terra, das águas e das florestas, protegendo os povos originários;
- Massificar o processo de formação política, de consciência e poder popular;
- Saber trabalhar a batalha ideológica dentro da luta de classe: nós x burguesia, fortalecendo as rádios comunitárias e materiais de formação;
- Promovermos a solidariedade de classe, o internacionalismo e unidade plena contra o imperialismo;
- Posição contrária a última arma do capital, que é a guerra; contra as iniciativas bélicas e pela libertação das colônias.
Na mesma linha, a vice-presidenta da Colômbia, em sua potente fala, trouxe pontos importantes para o debate, afirmando que não há que se falar em integração dos povos enquanto não rompermos com a política patriarcal, racista, machista, homofóbica e xenófoba, cuja estrutura provoca desigualdades sociais, violência e morte. Trouxe ainda a necessidade da reparação histórica às vítimas da escravização e do colonialismo sofrido pelas Américas e outros povos mundo afora.
Já o Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Sílvio Almeida trouxe em sua fala a importância da Jornada ao tratar do futuro dos povos, afirmando “não ser possível que nós permitamos que as pessoas sofram e que nós não levantemos nossa voz. Nós não podemos nos conformar com o sofrimento das pessoas e esse é o nosso caminho, o caminho da solidariedade. Só com solidariedade, vamos ser capazes de construir o futuro”, declarou.
De todas as reflexões e debates que presenciei durante a Jornada, o principal questionamento que ecoou e me marcou enquanto sindicalista e militante: Como contribuir para construir um futuro em que todos tenhamos uma vida com mais dignidade, solidariedade de classe e livre do poder opressor imperialista e colonial?
Ao realizarmos um ato em solidariedade às vítimas do genocídio palestino promovido por Israel e patrocinado pelos Estados Unidos na faixa de Gaza, nos deparamos com aqueles números cruéis de vítimas civis que somam mais de 95% dos mortos, desses, 72% mulheres e crianças, nos últimos 120 dias, percebemos a vastidão do poder destruidor de mentes movidas pelo ódio e gana de poder e riqueza.
Logo, a união e integração dos povos latino-americanos e caribenhos se mostra de fundamental importância, construindo um projeto comum onde prevaleça a soberania e, acima de tudo a democracia, a fim de enfrentar e frear a destruição provocada pelo capitalismo e neoliberalismo, pensado e financiado por poucos, porém poderosos grupos. A importância dessa integração é expressada na fala de Pepe Mujica, quando afirma que “A história não é feita por grandes caudilhos, a história é feita pelas massas”, ou seja, o povo unido, do campo e da cidade, fará a transformação necessária, por meio da solidariedade entre os povos.
Saímos fortalecidos, porém com imensos desafios rumo a construção e implementação desse projeto de futuro popular, soberano, democrático e integrativo!
Arlete Rogoginski
Diretora do Sindijus-Pr e Coordenadora-geral da Fenajud