Personalidades das artes e dos esportes se somam à luta contra o racismo e a violência policial no Brasil e no mundo

O contexto similar de países onde o racismo é um elemento estrutural da sociedade aproximou pessoas separadas por milhares de quilômetros entre si, mas que se encontram nas mesmas lutas: o combate ao racismo e à violência policial.

George Floyd nos Estados Unidos, João Pedro Pinto e João Vitor da Rocha no Brasil, todos negros, vítimas do mesmo fenômeno, tiveram suas vidas abreviadas e suas famílias destroçadas por conta de ações policiais que não respeitam sequer protocolos básicos que são padrões internacionais para a conduta policial, quanto mais direitos fundamentais de indivíduos e da população em geral.

O repúdio ao caso de Floyd, assassinado em Minneapolis por um policial branco que permaneceu por mais de 8 minutos com o joelho sobre o pescoço do homem de 46 anos, se converteu em manifestações com milhares de pessoas em dezenas de cidades ao redor do mundo. Na esteira disso, as mortes dos adolescentes do Rio de Janeiro também tiveram repercussão maior do que o de costume. Além disso, chamaram a atenção para a violência sofrida – e imposta pelas polícias – cotidianamente pelas populações de comunidades periféricas e empobrecidas no Brasil.

Viola Davis, atriz negra vencedora do Emmy e Globo de Ouro, publicou no seu Twitter – seguido por mais de 1,3 milhão de pessoas – uma petição que pede justiça para o caso de João Pedro.

https://twitter.com/violadavis/status/1267227150454714368

Outro ator negro norte-americano, Terry Crews, bastante famoso no Brasil pelos seus papéis no filme “As branquelas” e na série “Todo mundo odeia o Cris”, gravou um vídeo manifestando solidariedade à família do menino morto em São Gonçalo.

https://www.instagram.com/p/CBO7GsQgXL6/

Também lamentaram a morte de João Pedro a cantora Daniela Mercury, a atriz Taís Araújo e o ator Bruno Gagliasso, a ex-atleta olímpica Joanna Maranhão, além de diversos jogadores de futebol, como Igor Julião (Fluminense), Paulinho (Bayer Leverkusen), Yuri (Ponte Preta), entre outros.

Gabriel de Jesus (Manchester City), Everton Ribeiro e Gabigol, ambos do Flamengo, publicaram mensagens de apoio à luta contra o racismo, após o crime em Minneapolis. Everton Ribeiro foi além e cedeu sua conta no Instagram, com mais de 3 milhões de seguidores, para intelectuais e lideranças negras falarem sobre racismo (imagem abaixo).

Atitude semelhante teve o ator e comediante Paulo Gustavo, que abriu o seu Instagram (13,6 milhões de seguidores) para a filósofa e escritora negra Djamila Ribeiro falar sobre racismo e outros temas durante um mês.

O ex-jogador Grafite fez um desabafo no programa “Bem Amigos”, da SporTV, e disse que o caso de João Pedro poderia ter sido esquecido logo se não ocorresse a morte de George Floyd. “O brasileiro tem memória curta, esquece rápido. Se o caso do George Floyd não tivesse acontecido dias atrás, talvez o João Pedro estaria no esquecimento. As coisas acontecem tão tragicamente no Brasil, que a gente aceita com naturalidade”, criticou o ex-atacante do São Paulo e do Santa Cruz.

Os atores negros John Boyega (da série Guerra nas Estrelas) e Michael B. Jordan (do Pantera Negra participaram de marchas de protesto contra a morte de Floyd nos Estados Unidos. Boyega fez discurso, no qual afirmou que poderia perder a carreira em Hollywood, mas que não se calaria neste momento. E Jordan cobrou o comprometimento dos estúdios para apoiar a luta contra o racismo, inclusive dando mais espaço para protagonistas negros e negras. As cantoras Madonna e Jennifer Lopez também estiveram nas marchas do movimento “Black Lives Matters” (Vidas negras importam).

Doação milionária

Michael Jordan, considerado o maior jogador de basquete da história e atualmente dono do Charlotte Hornets, equipe da NBA, anunciou que vai doar 100 milhões de dólares (cerca de 500 milhões de reais) para entidades que lutam contra o racismo nos Estados Unidos.

Principal astro da NBA na atualidade, Lebron James, do Los Angeles Lakers, já é um dos maiores “ativistas” no esporte contra o racismo e teve a sua casa pichada com uma ofensa racista em 2017. James tem sido um dos mais contundentes a participar do debate que se abriu com a morte de George Floyd, que era amigo pessoal de um ex-jogador da NBA, Stephen Jackson, campeão da liga com o San Antonio Spurs. Foi Jackson, aliás, que estava carregando a filha de Floyd num vídeo que viralizou pela internet. “Meu pai mudou o mundo!”, diz no vídeo pequena Gianna, que recebeu bolsa integral da universidade Texas Southern.

Messi, do Barcelona, Neymar e Mbappé, atacantes do Paris Saint Germain, foram outras estrelas globais do esporte que se manifestaram nas redes sociais contra o racismo.

No Brasil, porém, poucas empresas, marcas ou líderes empresariais se manifestaram sobre a morte de João Pedro ou de João Vitor – baleado durante operação policial enquanto entregava cestas básicas para famílias pobres na Cidade de Deus. A morte de jovens negros, ou melhor, o genocídio da população negra parece não comover os setores mais abastados da sociedade brasileira. Isso seria consequência do racismo estrutural que existe do Brasil?

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