Fome e extrema pobreza vão aumentar no Brasil e no mundo em razão da pandemia, apontam estudos

O Brasil e o mundo deverão testemunhar um forte aumento da pobreza e da fome nos próximos meses – e, talvez, anos – por conta da pandemia do coronavírus. As previsões de todos os órgãos econômicos e institutos que estudam o tema da distribuição e do acesso a bens alimentícios, renda e riqueza são desoladoras.

No Brasil, estudos do Banco Mundial indicam que cerca de 5,4 milhões de pessoas podem entrar na condição de extrema pobreza como consequência direta da pandemia. Com isso, o país chegaria a ter aproximadamente 14,7 milhões de pessoas sobrevivendo nesta condição até o fim de 2020. Este contingente equivale a 7% da população brasileira, mas é praticamente a soma da população de Suécia e Noruega, que possuem juntas 15,6 milhões de habitantes.

Para Daniel Balaban, diretor do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos (WFP, em inglês), principal órgão humanitário da ONU, em entrevista ao Estadão, o Brasil “está caminhando a passos largos” para retornar ao Mapa da Fome, de onde saiu em 2014. Figuram nesta indesejável lista países que possuem pelo menos 5% da população na extrema pobreza.

Mundo

Segundo estimativas da ONU, 34,3 milhões de pessoas devem ser jogadas na extrema pobreza até o fim de 2020. O cenário é ainda mais grave diante das perdas econômicas previstas em decorrência da pandemia ao longo da década: até 2030, outras 130 milhões de pessoas pode fazer parte desta infeliz estatística.

A desigualdade de renda e riqueza também deve ser acentuada ao longo dos próximos anos. O mundo já ostenta hoje, de acordo com o economista francês Thomas Piketty, autor de “Capital e ideologia” (2019), “O capital no século XXI” (2013) e “Economia da desigualdade” (1997), ´níveis de concentração de riqueza semelhante aos do final do século XIX. E a crise global por conta do covid-19 deve agravar ainda mais este quadro.

O relatório anual da Oxfam que monitora o tema, divulgado em janeiro passado, aponta que o 1% mais rico da população brasileira acumula 28% da riqueza do país, índice inferior apenas ao do Catar, um emirado absolutista e hereditário. No conjunto do planeta, a situação não é muito diferente. Também segundo o relatório da Oxfam, os 2.153 bilionários do mundo possuem hoje uma renda igual à de 4,6 bilhões de pessoas, 60% da população global. O 1% mais rico do globo acumula o dobro da renda de 6,9 bilhões – a população mundial neste momento é de 7,7 bilhões.

Alternativas

Ao redor do mundo, diversos economistas e pesquisadores de outras áreas têm defendido que a pandemia é um fator que impõe à humanidade a tarefa repensar o tipo de modelo de sociedade que deve prevalecer.

Na Holanda, o governo de Amsterdã reuniu 170 acadêmicos locais para elaborar um manifesto cujo conteúdo, em linhas gerais, segundo reportagem da Rede Brasil Atual, “aponta para a estruturação de um novo tipo de economia, baseado no decrescimento em busca de uma composição econômica mais solidária e menos predatória”.

A abordagem da cidade holandesa é baseada num modelo desenvolvido pela economista Kate Raworth, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Este modelo, informa a Folha de São Paulo, é chamado de “teoria da rosquinha” [ver figura abaixo]e busca o “equilíbrio entre as necessidades econômicas de países, cidades e pessoas e os recursos ambientais disponíveis”. As teses de Raworth estão descritas no livro “Economia Donut: Uma alternativa ao crescimento a qualquer custo” (2019).

O teólogo Leonardo Boff, em artigo no Brasil de Fato, diz que o coronavírus “desperta o humano em nós” e nos leva a pensar em “outro tipo de mundo”, baseado na economia com “outra racionalidade”, que “sustenta uma sociedade globalmente integrada, fortalecida mais por alianças afetivas do que por pactos políticos. Será a sociedade do cuidado, da gentileza e da alegria de viver”.

E você, o que tem pensado sobre isso?

O modelo da “economia donut”.

 

 

 

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