Alta interrompe ciclo de quase três décadas de queda e está associada à retomada do emprego formal; servidores públicos seguem como a base mais organizada
À medida que 2025 se aproxima do encerramento, a Fenajud (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados) projeta que o número de trabalhadores sindicalizados continue acompanhando a tendência de alta registrada em 2024. Após anos de retração contínua, a taxa de sindicalização no Brasil voltou a crescer no ano passado, revertendo um movimento negativo que se arrastava desde os anos 1990 e reafirmando o papel estratégico das entidades sindicais na defesa de direitos, especialmente no setor público. Dados do Dieese, com base na Pnad Contínua (IBGE), mostram que o índice nacional passou de 8,4% para 8,9% entre 2023 e 2024, período em que mais de 811 mil trabalhadores se filiaram a sindicatos, elevando o total para 9,06 milhões.
O movimento contraria a tendência global de queda da sindicalização e dialoga com pesquisas recentes, como a do Vox Populi/CUT, que mostra que 68% dos trabalhadores reconhecem os sindicatos como essenciais para a defesa de direitos, mediação de conflitos e melhoria das condições salariais.
Para a Fenajud, esses dados confirmam o que a categoria vem defendendo há anos: a presença de entidades fortes é fundamental para garantir direitos, condições de trabalho e qualidade nos serviços prestados à população.
Setor público puxa a organização sindical
O crescimento de 2024 está diretamente ligado à expansão do emprego formal, especialmente nas grandes empresas e em áreas urbanas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. São Paulo, por exemplo, passou de 8,8% para 10,8% de sindicalização em apenas um ano. Mesmo assim, o serviço público continua sendo o principal núcleo organizado do país. Em 2024, a taxa de sindicalização entre trabalhadores estatutários e celetistas do setor público atingiu 16,0%, muito acima da média geral.
Houve aumento de sindicalização entre mulheres, homens, negros e não negros. Também se verificou, pela primeira vez em anos, um crescimento entre jovens de 18 a 24 anos. Ainda assim, a maioria dos sindicalizados tem mais de 40 anos, representando 51,8% do total, indicador que reforça a necessidade de políticas de renovação e formação sindical.
Aumento é positivo, mas ainda insuficiente
Mesmo com os avanços, o Dieese alerta para fragilidades importantes. Grande parte dos empregos criados em 2023–2024 está em setores com baixa densidade sindical, e os impactos da Reforma Trabalhista continuam a limitar a negociação coletiva. Para os trabalhadores públicos, esse cenário reforça a urgência de regulamentar a Convenção 151 da OIT, que garante negociação coletiva e proteção sindical no setor público, uma pauta histórica da Fenajud e de diversas entidades do funcionalismo.
O crescimento da sindicalização indica que trabalhadoras e trabalhadores reconhecem a importância de fortalecer suas entidades representativas. No caso do serviço público, esse fortalecimento é ainda mais essencial frente aos desafios atuais: ataques ao serviço público, riscos de retirada de direitos, restrições orçamentárias e disputas sobre o modelo de Estado.
Diversos ramos ampliaram sua taxa de sindicalização em 2024, entre eles:
• Administração Pública;
• Saúde e Seguridade Social
• Urbanitários
• Metalúrgicos
• Financeiros (16,3% → 18,9%)
• Químicos (10,9% → 13,4%)
Histórico
A trajetória da organização sindical brasileira passou por fases distintas. Seu auge ocorreu entre as décadas de 1970 e 1980, quando as lutas por direitos sociais e trabalhistas cresceram mesmo sob forte repressão política. A partir dos anos 1990, porém, a desindustrialização, a informalidade e o avanço de formas precárias de trabalho — aliados ao enfraquecimento institucional provocado pela Reforma Trabalhista de 2017 — provocaram queda contínua da sindicalização. Entre 1990 e 2014, a taxa média era de 17,8%. Já entre 2014 e 2019, caiu para 13,3%. Em 2023, atingiu o menor patamar da série histórica: 8,4%. As únicas quedas ocorreram entre trabalhadores rurais e do setor de alimentação.
ÁREA RESTRITA
ASCOM
LINKS ÚTEIS
E-MAIL