Entre metas e dignidade: Seminário Nacional de Formação da Fenajud discute os rumos do trabalho no Judiciário

Na última sexta-feira (03/10), a Fenajud promoveu o Seminário Nacional de Formação Sindical, em Curitiba (PR), reunindo especialistas, dirigentes e servidores para refletir sobre os impactos da conjuntura atual no trabalho no Poder Judiciário e nas condições de vida da classe trabalhadora. Com o tema central “Compreender os desafios da conjuntura para estabelecer as ações em defesa dos direitos dos trabalhadores”, o evento foi marcado por análises críticas e diálogos estratégicos. Confira as fotos aqui.

A primeira mesa do dia levou reflexões sobre a lógica gerencial que tem se consolidado no Judiciário, impulsionada pelo CNJ como principal agente normatizador de práticas. O modelo tem como foco a produtividade e a priorização de metas quantitativas, o que, segundo a palestrante, Rafaella Menezes, coloca em risco a qualidade da prestação jurisdicional. A mesa contou com a participação de Elisangela Paula e Ednaldo Martins, coordenadora-geral e coordenador de formação sindical respectivamente.

“Não é que não queremos metas. Queremos dignidade, reconhecimento e metas justas. A sociedade precisa ser atendida com qualidade, e não apenas com números”, destacou Rafaella, ao questionar se a forma como a produção vem sendo mensurada de fato atende às necessidades da população. Ela alertou ainda que esse modelo provoca individualização do trabalho, intensificada pelo teletrabalho, que isola as trabalhadoras e os trabalhadores do serviço público e reforça a instantaneidade da cobrança por resultados.

À tarde, o professor Tarciso de Figueiredo Palma conduziu um debate sensível e necessário sobre o suicídio e sua relação com o mundo do trabalho, destacando como as condições laborais podem afetar profundamente a saúde mental das trabalhadoras e dos trabalhadores. Em sua fala, ele apresentou dados e analisou fatores que envolvem as condições de vida, de trabalho e de saúde, demonstrando como esses elementos se entrelaçam no cotidiano e impactam o bem-estar físico e emocional. Tarciso enfatizou ainda a importância da solidariedade entre colegas e do enfrentamento coletivo às pressões que recaem sobre o indivíduo. “Precisamos olhar uns para os outros no ambiente laboral e combater a culpabilização individual”, alertou. Participaram da mesa: Euthália Melo e Luiz Cláudio, presidente do Sinjap e o coordenador de Assuntos parlamentares da Fenajud, respectivamente.

Encerrando o evento, o sociólogo Clemente Ganz Lúcio abordou  os desafios do sindicalismo diante das transformações tecnológicas. Para ele, os dirigentes estão diante da necessidade de respostas inovadoras, mas que mantenham a essência da luta sindical: a defesa de direitos, melhores condições de trabalho e proteção social. “Não há novidade no que fazemos há 200 anos: seguimos lutando por proteção e dignidade. O desafio é encontrar formas eficazes de atuar frente às mudanças”, frisou. Estiveram na mesa ainda Adriana Toscano, coordenadora da regional Sudeste, e Eduardo Couto, coordenador-geral. 

O seminário

A atividade, que está em sua terceira edição, reafirmou a importância da formação sindical como ferramenta para fortalecer a atuação da Fenajud e de seus sindicatos de base. Em um contexto de mudanças profundas no mundo do trabalho e de crescente pressão por produtividade no Judiciário, a entidade levou debates que comprovam que a defesa da qualidade, da saúde e da dignidade dos trabalhadores permanece como prioridade.