Reabertura do comércio e relaxamento do isolamento social fazem disparar contágio do coronavírus

A pandemia do coronavírus ganhou força em julho, com grande aumento do número de casos e mortes, em várias regiões do Brasil. Isso ocorreu após a flexibilização das medidas de isolamento social adotadas por alguns governos estaduais e municipais nos meses de maio e junho.

O Brasil começa a primeira semana de agosto com 2,73 milhões de casos oficiais e mais de 94 mil mortes – 94.130 até o domingo (2).

Nos últimos dois meses, a reabertura do comércio, especialmente de shopping centers, pelos quais circulam milhares de pessoas diariamente, foi um dos fatores que permitiu o avanço do contágio e levou à sobrecarga do sistema de saúde em várias cidades de porte médio.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, também contribuiu diretamente com o avanço da pandemia, ao minimizar os riscos do vírus e provocar aglomerações em diversas ocasiões, além de pressionar governadores e prefeitos para liberar o funcionamento de estabelecimentos comerciais.

Sul

Em muitas cidades da região Sul, o relaxamento da quarentena ocorreu em maio e em junho, diante da explosão de casos e de óbitos, houve uma regressão à situação inicial, mais restritiva.

Em Curitiba, o número de casos triplicou entre a primeira e a terceira semana de junho. Na capital paranaense, o número de mortes duplicou nesse período, passando de 54 para 116.

Porto Alegre viveu situação semelhante e a prefeitura foi obrigada a decretar medidas mais duras de isolamento social no dia 23 de junho.

Um caso emblemático foi a cidade catarinense de Blumenau, que autorizou a reabertura do comércio ainda na última semana de abril e, com isso, viu disparar a transmissão do covid-19. Em dois meses, a cidade saltou de 68 casos para 951, o que levou o prefeito a reconhecer a gravidade da situação e a pedir ajuda. “É evidente o quanto o blumenauense se desligou da necessidade do cuidado. Simplesmente acharam que estava tudo resolvido, que estava tudo certo, e a gente observou um relaxamento geral. Quero reiterar e pedir pra vocês: Por favor, nos ajudem. É um pedido de ajuda de cada um de vocês”, disse o gestor municipal durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, no dia 22 de junho.

O número de mortes disparou em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, após a reabertura de lojas e do comércio em geral, o que aconteceu no dia 1º de junho. Duas semanas depois dessa data foram registradas 19 vítimas fatais por coronavírus no município. O total de mortes aumentou 192,6% nesse período e houve um aumento de 123% dos casos totais na cidade.

Levantamento do Estadão mostrou que o contágio aumentou em pelo menos 12 capitais que permitiram a reabertura do comércio. Em Brasília, a quantidade de novos infectados quintuplicou durante o mês de junho.

Em algumas capitais houve redução dos contágios após a reabertura, mas acredita-se que isso ocorreu devido à baixa demanda por parte da população, somada a outras medidas de prevenção, como o uso de máscaras.

Festas clandestinas

Um vetor de propagação do coronavírus tem sido as festas clandestinas realizadas na maioria das cidades grandes e médias, tanto em bairros nobres quanto em áreas periféricas. As autoridades públicas não têm dado conta de coibir completamente tais eventos e o resultado é circulação facilitada do vírus.

As multas e até prisões, em alguns casos, não têm sido suficientes para evitar a repetição de atividades que causam aglomeração de multidões. Apenas em Curitiba houve um total de 718 denúncias de festas clandestinas no mês de julho.

Em São Paulo, 636 locais haviam sido interditados pela prefeitura até o início de julho. O funcionamento de casas noturnas, boates e festas teve 235 denúncias até aquele momento.

Os apelos que profissionais da saúde fizeram, especialmente no início da pandemia, tampouco surtiram efeito. Em Brasília, pessoas que trabalham na saúde fizeram até uma campanha com adesivos nos carros e publicações nas redes sociais, mas os resultados foram frustrantes e a maior parte da população continuou – e continua, até hoje – circulando como se nada estivesse acontecendo.

O Brasil já está vivendo uma tragédia, mas ela pode se agravar muito mais, especialmente se o retorno às aulas presenciais em escolas particulares – previsto para ocorrer em nove estados e mais o Distrito Federal – não respeitar protocolos de segurança rígidos para evitar a contaminação.

 

Com informações de: UOL, G1, Folha de São Paulo, Bem Paraná e Agência Brasil

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