Por que é o “Dia Internacional dos Trabalhadores” e não o “Dia do Trabalho”?

Ao longo da história, as datas e os símbolos que as sociedades criaram para marcar e rememorar acontecimentos importantes sempre tiveram o seu significado disputado por grupos sociais com visões de mundo distintas. Isso também ocorre com o 1º de Maio. E não é por acaso.

Nascida para homenagear a luta de quatro trabalhadores de Chicago mortos pela polícia em 1886, enquanto participavam de uma campanha nacional por melhores salários e condições de trabalho, ao longo do tempo a data foi passando, especialmente no Brasil, de “Dia Internacional do Trabalhadores” para “Dia do Trabalho”.

Pelo menos quatro ideias estão por trás desse processo:

  1. O desejo de despolitizar e desumanizar a classe trabalhadora, com a ênfase no ato do trabalho em vez de no sujeito social, o trabalhador;
  2. Os interesses comerciais de vários setores, que investem em publicidade por conta do feriado fixo;
  3. A concepção que apresenta o trabalhador como um ser individual e autônomo, sem vínculos com qualquer coletividade (muito menos com sindicatos e ainda menos atuando em âmbito global!) e sem qualquer responsabilidade social para além das suas tarefas como empregado;
  4. O reforço à visão utilitarista do trabalho, que é enaltecido como um fim em si mesmo, um ato quase sagrado, mas desconectado da realidade social e política, regida por uma ordem econômica que gera, de forma contínua, mais concentração de riqueza e desigualdade entre classes sociais.

E isso tudo tem a ver diretamente com o objetivo de esconder da classe trabalhadora tanto a sua verdadeira distinção em relação às demais – os trabalhadores são a única classe que produz riqueza real – quanto a estrutura de dominação à qual ela está submetida, em razão de um processo histórico de dimensões políticas, econômicas e culturais.

Oportunidade

A epidemia do coronavírus é uma situação extraordinária que, além de expor os graves problemas de inúmeras categorias profissionais que estão sobrecarregadas e atuando sob riscos extremos, tem revelado as faces dessa estrutura de dominação.

“Os burgueses, protegidos dentro dos carrões, exigem que seus empregados voltem a trabalhar para gerar riqueza. Bingo! Epifania! Revelação! O que gera riqueza não é o capital. É o trabalho!”, observou o Wilson Ramos Filho, doutor em Direito e professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no artigo “O vírus deixou o capitalismo brasileiro nu”, que serviu de base para um vídeo [assista abaixo]que explica, no contexto brasileiro, a relação capital-trabalho de forma simples e clara.

“Os que desfilaram buzinando fizeram verdadeiro strip-tease ideológico. Descortinaram para todos como funciona o capitalismo. Exigiram que os governos assegurem e garantam o que entendem ser seu direito, o direito a explorar, o direito a ficar com a mais-valia produzida por seus empregados”, diz o professor, de maneira didática.

Histórico

O Dia Internacional dos Trabalhadores foi criado no Congresso da Internacional Socialista de 1889, realizado exatamente a 14 de julho de 1889, em Paris, na passagem do centenário da Revolução Francesa. A campanha dos operários estadunidenses, três anos antes, havia organizado mais de 1.500 greves por todo o país e chamou a atenção de toda a nação para os graves problemas que os trabalhadores enfrentavam no seu cotidiano.

A homenagem aos quatro mártires de Chicago era, afinal, um tributo à luta de toda a classe trabalhadora mundial. Via de regra, as condições degradantes de trabalho eram precárias em todas as partes do planeta – basta lembrarmos que, ainda hoje, em várias profissões e locais no Brasil, no campo e na cidade, existem formas de trabalho análogo à escravidão.

No dia 1º de Maio, celebre o Dia Internacional dos Trabalhadores e das Trabalhadores!

Assista ao vídeo da Fenajud:

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