SINJUS-MG: a falácia da recuperação da economia

No fim do ano de 2017 e no início deste ano de 2018, parcela significativa da imprensa, por meio de seus “jornalistas econômicos”, propagou e defendeu (de forma precoce) a tese de que a economia brasileira estava se recuperando. A defesa dessa ideia baseava-se, entre outros, nos números pífios do crescimento do produto interno bruto (1% em 2017) e da tímida recuperação do mercado de trabalho (taxa de desocupação de 11,8% no fim de 2017 contra 12% no fim de 2016).

Na medida em que o ano de 2018 vai passando, no entanto, a realidade vai se mostrando mais cruel. Para começar, a taxa de desemprego, que como vimos, fechou 2017 em 11,8%, já chegou aos 13,1% em março de 2018, o que significa um contingente de mais de 13,6 milhões de desocupados. Além disso, vale destacar que outros 4,3 milhões de trabalhadores haviam desistido de procurar um trabalho e que o tempo de desemprego está cada vez maior, com quase 3 milhões de pessoas procurando por uma ocupação há mais de dois anos.

Além disso, as previsões para o crescimento da economia em 2018 estão em queda livre. O IBC-Br do Banco Central do Brasil, que é um indicador que tenta prever a variação do PIB do país, apresentou queda de 0,65% em janeiro de 2018 e expansão de míseros 0,09% em fevereiro. Além disso, os principais setores da economia apresentam desempenho muito ruim. O comércio varejista teve queda de 0,5% nas suas receitas em fevereiro na comparação com janeiro e queda de 0,2% no volume de vendas no mesmo período de comparação; já o setor de serviços teve queda de 2,2% nas suas receitas em fevereiro na comparação com janeiro e queda de 1% no volume de vendas no mesmo período de comparação.

Esses indicadores têm impacto direto nas finanças públicas: baixo crescimento econômico significa baixa arrecadação o que implica a piora dos indicadores fiscais. Prova disso é a deterioração constante nas contas do governo federal. Os dados da Secretaria do Tesouro Nacional mostram o maior déficit primário¹ da história para o mês de março: R$ 25 bilhões. Além disso, enquanto em 2014 (início da crise) o país teve déficit primário de R$ 24,7 bilhões, em 2015, esse déficit foi de R$ 129 bilhões, em 2016, de R$ 166 bilhões e em 2017 de R$ 120 bilhões. Vale ressaltar também que o déficit nominal² também piorou nos últimos anos, passando de R$ 337,7 bilhões em 2014 para R$ 468,8 bilhões em 2017. Esse dado é importante, pois mostra que, apesar de toda a crise que assola o país, uma pequena parcela da população brasileira a ela se mantém imune: os credores da dívida pública, em especial os cinco maiores bancos, que tiveram aumento de lucros da ordem de 33,5% na comparação de 2017 com 2016, e os 10% mais ricos da população, que concentravam, em 2017, 43,3% da massa de rendimentos do país.

Em suma, todos esses números mostram como alguns especialistas foram precipitados ao traçar um diagnóstico de recuperação da economia brasileira, já que, claramente, a economia ainda está “andando de lado”. E esse baixo crescimento, e seus efeitos deletérios sobre o emprego e as contas públicas, tem como causa principal a desastrosa política econômica implantada no país nos últimos anos.

¹Diferença entre o que o governo arrecada e o que o governo gasta com exceção dos juros da dívida pública.

²Diferença entre o que o governo arrecada e o que o governo gasta, incluídos dos juros da dívida pública.

THIAGO RODARTE

É economista com graduação e mestrado pela UFMG, onde foi professor substituto. Ex-diretor da Secretaria de Desenvolvimento de Minas Gerais. Atua no DIEESE, assessorando, atualmente, os sindicatos dos servidores da Justiça Estadual de Minas Gerais.

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