O momento que seria de realização acabou sendo de surpresa e frustração para candidatos aprovados no último concurso de segunda instância do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no ano de 2015. No ato da posse, servidores foram obrigados a assumir com jornada de oito horas, ao contrário das seis horas que constavam do edital. Somente após dois anos de mobilização, várias reuniões e argumentos técnicos apresentados pelo Sindicato dos Servidores da Justiça de 2ª Instância do Estado de Minas Gerais (SINJUS-MG) a injustiça foi corrigida. Agora, quem optou pela redução do expediente pode se dedicar aos projetos profissionais e pessoais que tiveram que ser suspensos devido à decisão arbitrária do Tribunal à época.
Em setembro de 2015, quando foi tomar posse, Fernanda Godoy Resende Calijorne foi surpreendida com a determinação de ter que trabalhar oito horas por dia. Quando se inscreveu para o concurso, um dos atrativos era justamente a jornada de seis horas. Isso porque o sonho de ser mãe estava perto. “Foi um susto. Fiquei muito indignada. Eu estava grávida e depois que voltei da licença-maternidade chorei de desespero porque não tinha tempo para ficar com o meu filho”, relata.
Logo depois de ser empossada no TJMG, Fernanda decidiu se filiar ao SINJUS e reforçou o grupo de servidores empenhados na luta contra o aumento da jornada de trabalho. “O Sindicato foi fundamental para revertemos essa injustiça. Se não fosse o SINJUS, tenho certeza de que ainda estaria fazendo oito horas. Quando saiu a resolução dando a opção de redução de jornada, fiz a solicitação no primeiro dia. Agora, tenho toda a manhã disponível para o meu filho” descreve a servidora. Ela ainda garante que a produtividade no trabalho aumentou.
A possibilidade de redução de jornada também foi benéfica para Tiago Augusto da Silva Pereira, que passou a ter mais tempo para a sua carreira de escritor. Ele já teve seus contos publicados em dois livros em conjunto com outros autores e agora está trabalhando no seu próprio livro. “Com esse tempo livre, é possível fazer cursos, nos capacitar e também nos dedicar a outras atividades. Sou escritor e estou aproveitando para trabalhar nos meus projetos”, complementa.
“O SINJUS já vinha se posicionando contra antes mesmo de ser editada a resolução que alterou a jornada. Com o caso dessa imposição indevida do TJMG, o Sindicato colocou essa luta como uma das prioridades. Foram várias mobilizações e essa conquista mostrou que, quando há engajamento da categoria junto ao Sindicato, é possível avançar”, ressalta o coordenador-geral do SINJUS, Wagner Ferreira.
Servidor aproveita a redução na jornada para se qualificar
Além de ter mais tempo para a família e para projetos pessoais, os servidores que optaram pela redução de jornada a partir de fevereiro deste ano também estão aproveitando o tempo livre para investir na carreira. Esse é o caso da servidora Pollyanna de Castro Barbosa, que agora pode se dedicar melhor à graduação em Direito. Para ela, os resultados são nítidos no desempenho na faculdade e dentro do Tribunal. “Estava em uma jornada sacrificante. Trabalhava o dia inteiro, à noite tinha as aulas e, quando chegava em casa, ainda tinha os afazeres domésticos. Agora tenho tempo de estudar pela manhã e à noite posso descansar”, diz.
Pollyanna acrescenta que viu de perto como foi grande o esforço para se conseguir a redução de jornada na Administração do Tribunal e considera que no final o próprio órgão foi favorecido. “Além de melhorar a minha qualidade de vida, o meu trabalho está muito mais produtivo. No nosso setor, fizemos uma apuração e o número de erros e de licenças era muito maior quando a jornada era de oito horas”, afirma.