Atividade reuniu mais de 70 pessoas, dos Três Poderes, lideranças sindicais e do movimento negro, durante 3 dias de debates, envolto por cultura e ancestralidade, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
A cidade do Rio de Janeiro (RJ) foi palco, entre os dias 25 e 27 de setembro, de um encontro histórico: o II Encontro Nacional do Coletivo de Negras e Negros da Fenajud. Um evento marcado pela potência, pela diversidade de experiências e pelo fortalecimento das lutas antirracistas no Judiciário. Mais de 70 pessoas participaram da programação, que contou com representantes dos Três Poderes, lideranças sindicais e do movimento negro, sob o tema “Fortalecendo Coletivos, Articulando Lutas: Classe, Raça e Gênero no Judiciário”. A atividade recebeu debates de grande relevância, como as cotas raciais, os quilombos, a comunicação antirracista e a organização sindical.
O evento teve início com uma mesa institucional, que contou com representantes de diferentes áreas, entre eles: Alexandre Santos, Coordenador-Geral da Fenajud; Ana Carolina Lobo, Coordenadora de Gênero, Etnia e Geracional; Ramon Carrera, do Sindjustiça-RJ; Sandra Dias, representando a Fenajufe; o deputado estadual Professor Josemar; Danyelle Martins, em nome do Coletivo de Negras e Negros da Fenajud; Humberto Adami, da Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB/RJ; Vitor Matos, do Ministério da Igualdade Racial; e Prof. Ivanir dos Santos, Babalorixá e integrante do Movimento Negro no Rio de Janeiro. O cerimonial ficou por conta de Sheilla Salomé, da base de Minas Gerais.
Na Conferência Magna, o jurista Dr. Hédio da Silva Júnior destacou o Protocolo de Julgamento com Perspectiva Racial, já existente no âmbito do CNJ. Em sua fala, o advogado frisou que “essa medida precisa, efetivamente, ser implementada e colocada em prática em todos os tribunais do país”. Em sua fala, ressaltou ainda que a luta
antirracista precisa ser contínua e permanente, pois o racismo não é apenas uma injustiça social, mas também uma experiência profundamente traumática para quem o sofre. Vivências racistas pessoais e coletivas foram evidenciadas, como uma marca dolorosa do racismo estrutural, reforçando a necessidade de que haja normativas claras para coibir práticas discriminatórias e garantir que condutas racistas sejam devidamente apuradas e responsabilizadas.
A cultura se fez presente a todo momento. O primeiro dia de atividades foi encerrado com a emocionante apresentação do “Sopapo Poético Negro” (SLAM), que levou arte, voz e resistência para o espaço.
Cotas Raciais e Quilombos
O primeiro painel do segundo dia tratou das “Cotas Raciais no Judiciário”. A mesa levantou reflexões essenciais sobre os desafios e avanços na efetivação das políticas afirmativas no sistema de justiça. A mesa contou com a participação da juíza federal Mara Lina, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Professor Ivanir dos Santos,
Babalorixá e referência do Movimento Negro no Rio de Janeiro, e do deputado federal Pastor Henrique Vieira, integrante da Frente Parlamentar Mista Antirracista no Congresso Nacional. A coordenação ficou a cargo de Danyelle Martins, presidente do Sindju/PA e integrante da Coordenação Nacional do Coletivo de Negras e Negros da Fenajud, que conduziu o debate ressaltando a importância da representatividade e da luta pela igualdade racial no Judiciário brasileiro.
No Painel 2, o Coletivo tratou sobre “Terras Quilombolas e o Judiciário”, onde se voltou para a defesa dos direitos territoriais e a valorização da resistência histórica das comunidades quilombolas. O advogado Dr. Humberto Adami dos Santos Jr., representante dos Quilombos Sacopã e Pedra do Sal, levou relatos sobre a luta jurídica e social dessas comunidades, enquanto Vitor Matos, do Ministério da Igualdade Racial, destacou a importância de políticas públicas efetivas para
garantir a titulação e a proteção dos territórios quilombolas. Rosane Garcez, do Quilombo Sacopã, falou da situação vivenciada no local e pediu apoio das entidades presentes para as lutas enfrentadas. mesa foi coordenada por Ellen Caroline Pereira, secretária-geral do Sinjusc/SC e integrante do Coletivo de Negros e Negras.
Pequena África
A programação também incluiu momentos de conexão com a ancestralidade, como o passeio pela Pequena África, guiado por Alexandre Lourenço, especializado em roteiros com focos Histórico e Social, que propõe uma visão afrocentrada. Na caminhada ele resgatou memórias históricas e reafirmou a centralidade da cultura negra na construção da identidade nacional. Com base em pesquisa e vivência, o roteiro promoveu o diálogo entre passado e presente, valorizando os saberes ancestrais, ampliando a compreensão sobre as contribuições negras na formação do Brasil e reafirmando o compromisso
do afroturismo em contar essa história a partir de uma perspectiva crítica e enraizada na ancestralidade.
Mais do que um passeio turístico, a experiência é educativa, sensível e transformadora: conduziu os participantes a locais históricos que revelam a importância da presença negra na cidade, resgatando aspectos da história, arqueologia e cultura afrodescendente. O Circuito da Herança Africana foi criado por decreto municipal em 2011, reúne marcos fundamentais da memória afro-brasileira na Zona Portuária do Rio de Janeiro, território conhecido como Pequena África.
Potência
Um dos pontos altos foi a mesa de mulheres negras, que teve como mote “O papel da mulher negra nas Direções
Sindicais”, que trouxe reflexões fundamentais sobre como o lugar da mulher negra impacta não apenas sua própria trajetória, mas também a vida coletiva, política e sindical no Brasil. A mesa, que emocionou os presentes com histórias de superação, contou com a participação de Adriana Odara Martins, do MNU/RJ e representante da Marcha Nacional das Mulheres Negras 2025, Isis Garcia, secretária de Combate ao Racismo da CUT/RS e diretora do Sindibancários de Porto Alegre, e Cleonice Amorim de Paula, ex-presidente do Sinjus/MG. Sob a coordenação de Silvia Vasconcelos, do Sindjus/RS, o painel ressaltou os desafios enfrentados pelas mulheres negras em espaços de direção, a necessidade de ampliar a representatividade e a urgência de transformar as estruturas do movimento sindical a partir de uma perspectiva feminista e antirracista.
Criando os Coletivos
O último painel foi uma verdadeira aula prática, com contribuições para a organização sindical. Na mesa, Marco Velleda, do Coletivo Sindjus/RS, apresentou propostas de metodologia e diretrizes para a criação e fortalecimento de coletivos no âmbito da Fenajud, destacando a importância da atuação estruturada e
participativa. Já, Claudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação, abordou estratégias de comunicação antirracista, com foco no papel das redes sociais e na importância de denunciar práticas discriminatórias. A mesa foi coordenada por Luís Otávio, diretor-geral do Sindjustiça-RJ, que reforçou a relevância da articulação entre prática sindical, comunicação e luta antirracista.
Carta do Rio de Janeiro
No encerramento, foi aprovada a Carta do Rio de Janeiro, documento coletivo que sistematizou as principais proposições e demandas construídas ao longo dos três dias de atividades. O texto reafirma a luta e o compromisso com a luta antirracista, a defesa da democracia, a ampliação de políticas afirmativas e a valorização das vozes negras nos espaços de decisão do Judiciário e do sindicalismo.
Esse momento final, que contou com a presença dos membros do Coletivo, Luiz Mendes, Danyelle Martins, Alexandre Santos e Carolina Lobo (da esquerda para a direita), simbolizou não apenas a síntese do encontro, mas também um chamado à ação para os próximos anos. Além disso, ficou definido que o próximo encontro do Coletivo será realizado em 2027, em Minas Gerais, consolidando a continuidade da mobilização e reforçando a necessidade de manter viva a articulação nacional em torno da igualdade racial, de gênero e de classe.
Confira os álbuns:
Fotos Dia 25/09
Fotos Dia 26/09
Fotos Dia 27/09
Pequena África
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