Fala do magistrado foi dita durante entrevista ao podcast Agorapod, no último sábado (22).
Enquanto milhões de brasileiras e brasileiros, de Norte a Sul, enfrentam dificuldades para sobreviver com um salário-mínimo de R$ 1.518, desembargadores como Orlando Perri, do Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJMT), acumulam contracheques milionários e ainda se dizem financeiramente sacrificados. A folha de pagamento do TJMT destinou, apenas em janeiro, R$ 111,7 mil ao magistrado. No ano passado, o total recebido por ele ultrapassou R$ 1,9 milhão entre salários, indenizações e direitos pessoais e eventuais.
Apesar desses valores exorbitantes, Perri declarou, no último sábado (22), em entrevista ao podcast Agorapod, que “a vida de um magistrado é quase como a vida de um monge” e que já enfrentou “agruras” financeiras na carreira. O que dizer das agruras de quem passa o mês fazendo malabarismos para pagar aluguel, alimentação e contas básicas essenciais?
A discrepância é real e fica ainda mais evidente quando vêm à tona a realidade de trabalhadores que sobrevivem com remunerações mínimas e se deparam com os vencimentos milionários daqueles que compõem a cúpula do Poder Judiciário. Enquanto o desembargador reclama de ter que trocar de plano de saúde, quantos brasileiros sequer têm acesso a atendimento médico? Quantos pais e mães precisam escolher entre pagar um remédio ou colocar alimento na mesa? Esse retrato é um reflexo da desigualdade estrutural e comum no país.
As servidoras e os servidores do Judiciário também enfrentam dificuldades dentro desse sistema desigual. Enquanto magistrados recebem valores muito acima da realidade da maioria dos brasileiros, os trabalhadores da ponta lidam com sobrecarga de trabalho, ausência de reajuste salarial adequado e, por vezes, com condições precárias de trabalho em algumas unidades judiciais. A disparidade nos vencimentos e nas condições de trabalho reforça a necessidade de uma revisão profunda na estrutura remuneratória e distribuição dentro do Poder Judiciário, para evitar a falta de valorização desses profissionais, que são essenciais para o funcionamento do Judiciário.
A indignação não se trata de questionar o direito dos magistrados a uma remuneração justa, mas sim de apontar os excessos que contrastam com a realidade do trabalhador comum. Para a Fenajud – Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados, o CNJ – Conselho Nacional de Justiça tem o dever de fiscalizar e coibir abusos, mas sua ação parece insuficiente diante de um sistema que perpetua desigualdades.
Diante desse cenário, a pergunta segue firme: “cadê o CNJ?” Quem fiscaliza, de fato, os super-salários, os benefícios e penduricalhos gigantescos do Judiciário, enquanto o restante da população luta diariamente para sobreviver?