A atividade, que contou com a participação da professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), Ana Magnólia Mendes, encerra a campanha do Setembro Amarelo, promovida pela Fenajud durante esse mês.
Na manhã desta segunda-feira, 30 de setembro, a Fenajud (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados) promoveu uma live especial abordando a Saúde Mental e o Adoecimento no Judiciário. A atividade marca o encerramento das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio e à promoção do bem-estar emocional. A Federação, por meio do coordenador de Saúde e Previdência, Ivonaldo Batista, ouviu a professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), Ana Magnólia Mendes.
Durante a transmissão, ambos citaram a importância de cuidar da saúde mental, especialmente em um setor tão exigente e estressante como o Judiciário. O evento trouxe à tona questões como o impacto da pressão no trabalho, o estigma em torno da saúde mental e a necessidade de espaços de acolhimento e diálogo. A live destacou a importância de iniciativas que promovam a saúde mental e ofereçam suporte as trabalhadoras e aos trabalhadores.
Ana Magnólia recordou a Pesquisa de Saúde realizada pela Fenajud e Fenajufe, comparando-a com a realidade atual. Ela citou que em 2018, coletamos dados sem imaginar que enfrentaríamos uma pandemia. Naquele momento, 96% dos servidores trabalhavam presencialmente, enquanto apenas 4% estavam em teletrabalho. Apesar desse baixo número, a pesquisa revelou uma queixa significativa sobre aqueles que já trabalhavam remotamente, especialmente em relação aos processos digitais, que geravam um aumento na carga de trabalho. Embora se esperasse uma redução nessa carga, na verdade, ela aumentou e os servidores acabaram trabalhando ainda mais. Isso foi identificado em 2018-2019. Agora, considerando a interconexão crescente que vivemos devido ao capitalismo digital, é difícil imaginar o que está acontecendo, especialmente após a pandemia, que trouxe essa nova realidade de forma irrevogável e que veio para ficar.
Magnólia disse ainda que, “Eu queria comentar um pouco sobre algumas ideologias que tem acometido hoje o serviço público e, muito fortemente o sistema de justiça, que nós precisamos barrar de alguma forma, porque elas estão acentuando muito mais as questões de saúde, como, por exemplo, a ideologia da urgência, da performance, do auto empreendedorismo. Isso tem produzido vários brutalismos nos ambientes de trabalho. Então, a lógica da gestão e o discurso que vem sendo feito, que é reflexo do que você falou das condições gerais do trabalho no mundo, não é? Considerando que o capital não avança, não muda, mas se reproduz e se acumula dentro do serviço. Hoje tenho observado nos meus estudos que essa lógica de gestão, que veicula essas ideologias e que produz efeito na organização do trabalho, tem produzido um sofrimento ético-político dos trabalhadores, que tem sido regulado pela medicalização, que também é um dado que aparece na pesquisa de 2019. Então, a saúde hoje, ela está muito mais agravada, mas de forma, paradoxal, muito mais invisibilizada”, ressalta a professora.
Ana também cita que “Hoje existe esse discurso de se fica ou não teletrabalho, de que maneira e como e para quantas pessoas vão ser até atingidas. São questões novas que apareceram, pioraram e agravaram a saúde e que tem acometido muitos trabalhadores da ideação suicida. Então Setembro Amarelo, que é uma iniciativa muito importante, mas que talvez a gente não precisasse dela se houvesse as verdadeiras garantias trabalhistas e a proteção do estado e das instituições talvez, a gente não precisava ter que fazer esse tipo de campanha se não existisse nenhum tipo de problema mental ou de suicídio no trabalho”.
“Andei lendo e escutando os últimos dados do Conselho Nacional de Justiça que fala do absenteísmo alto, entre magistrados e entre servidores, principalmente as mulheres. Na nossa pesquisa em 2019 aparece uma questão de gênero muito forte no sistema de justiça como sendo causa, por exemplo, de atos de violência. A gente tem uma queixa muito grande hoje dos trabalhadores de não ter um serviço de saúde fora para poder ser atendido, quase 92% [concentram-se nas sedes dos tribunais], são dados que vocês divulgaram. Temos de forma aterrorizante uma grande parte dos servidores da justiça estadual acometida por ansiedade”., pontua a professora.
Para Ivonaldo Batista, “a ação de hoje encerra as atividades do Setembro Amarelo, uma campanha crucial para aumentar a conscientização sobre a saúde mental e a prevenção do suicídio. A realização desta live sobre saúde mental e adoecimento no judiciário é fundamental para abrir um debate sobre questões que frequentemente ficam à margem das discussões, especialmente diante das pressões constantes que os servidores enfrentam. A Fenajud tem o compromisso de promover um espaço de diálogo, construção de políticas públicas e reflexão. Nossa saúde mental não pode ser negligenciada, e este debate marca o início de um esforço para valorizar e garantir o bem-estar de todos, assegurando que cada servidor seja respeitado, apoiado e ouvido.”
Confira aqui a live, na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=qMzuBM94Zts