Setembro Amarelo: um mês de atenção à saúde mental e prevenção ao suicídio

A FENAJUD abordará o tema durante todo o mês, em parceria com os sindicatos filiados, com o intuito de combater o estigma em torno da saúde mental e promover a prevenção do autoextermínio.

Registros oficiais revelam que a taxa de suicídio entre jovens no Brasil aumentou 6% ao ano de 2011 a 2022, enquanto as notificações de autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos subiram 29% anualmente, no mesmo período. Em 2022, as taxas de autolesões cresceram em todas as faixas etárias, dos 10 aos mais de 60 anos. Esses são dados deste ano do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, em colaboração com pesquisadores de Harvard.

De acordo com a Fiocruz, “Apesar da redução de 36% no número de suicídios em escala global, as Américas fizeram o caminho inverso. No período entre os anos 2000 e 2019, a região teve aumento de 17% nos casos. Nesse período, o número de casos no Brasil subiu 43%. Em relação aos casos de autolesões no Brasil, a pesquisa do Cidacs/Fiocruz constatou que, em 2022, houve aumento das taxas de notificação em grupos de todas as faixas etárias, desde os 10 aos mais de 60 anos de idade”.

A pesquisa também apresenta um dado alarmante quando cita os dados por raça e etnia no país. “As taxas de notificação aumentaram anualmente em todas as categorias – indígenas, pardos, descendentes de asiáticos, negros e brancos – com a população indígena apresentando o maior número, com mais de 100 casos por 100 mil pessoas.”, aponta o documento.

Assim, o mês chega com um importante convite à reflexão e à ação: o Setembro Amarelo, que tem como foco aumentar a conscientização sobre a prevenção do suicídio e diminuir o estigma associado às doenças mentais.

Saúde Mental x Qualidade de Vida

Emilio Peres Facas, Professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília (UnB), em entrevista para a FENAJUD – Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados, explica que “Primeiramente, é preciso entender que essa separação entre uma “saúde física” e uma “saúde mental” pode até ser feita com um caráter puramente “didático”, mas saúde é uma só – afinal, é um mesmo corpo e uma mesma pessoa. Assim, penso que é importante falarmos dos chamados aspectos mentais como parte indissociável da saúde como um todo. Desta forma, não há como se pensar uma vida com qualidade quando a saúde se encontra de qualquer forma fragilizada”. Sobre a importância do tema durante o Setembro Amarelo, ele considera que a maior contribuição que esse tipo de campanha pode trazer é, “de alguma forma, desestigmatizar e desmistificar justamente essa ideia de que a saúde mental é algo ligado ao senso de loucura, apartado do corpo e difícil de compreender”.

De acordo com o professor, “Pesquisas realizadas no Laboratório de Trabalho e Linguagem da Universidade de Brasília, nos últimos 10 anos, mostram que o processo de agravamento das condições de saúde e vida de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil – e aqui, insere-se a saúde mental – está relacionado especialmente às formas de gestão e organização dos diferentes contextos de trabalho e a um consequente esgotamento mental das pessoas. De forma global, esse esgotamento se relaciona a práticas de gestão produtivistas, que pautam-se pelo controle excessivo do trabalho, centralização de decisões em gestores, determinação de metas irreais (tanto em quantidade quanto em prazo para execução) e cobranças irrealistas de produção. Esse modo de gestão do trabalho tem levado os(as) trabalhadores(as) a sentirem-se injustiçados(as), desanimado(as), insatisfeito(as) e/ou desgastado(as) com seu trabalho, o que leva paulatinamente a um quadro de adoecimento”.

Emilio ressalta que, “Colaborando com esse paradigma de gestão do trabalho temos avanços tecnológicos que têm gerado um estado de hipervigilância e hiperdisponibilidade. Os aplicativos de mensagem instantâneas, por exemplo, romperam de vez com a fronteira entre um tempo no trabalho e o tempo fora do trabalho”.

Ele sugere que “Sobre as práticas preventivas, não existe uma “receita” pronta, mas alguns caminhos são importantes. Primeiramente, é preciso que as organizações reconheçam os(as) trabalhadores(as) como pessoas – assim, dotados de uma história de vida, de condições sociais e históricas, de sentimentos. São essas pessoas que fazem e conhecem o trabalho – logo, elas possuem contribuições importantes para pensar os processos de trabalho. Isso demanda abertura por parte das chefias para escutar/negociar e mudar os processos de gestão das atividades. Em segundo lugar, é importante que as organizações procurem pensar o que, em cada contexto de trabalho, pode estar impactando de forma negativa na saúde das pessoas. Aqui, trata-se de parar de pensar as questões de saúde no trabalho como algo externo às organizações. O que temos percebido nas pesquisas é que muitas das ditas “práticas em saúde mental” nas organizações não se relacionam diretamente com o processo de trabalho. Para tentar simplificar: não adianta colocar uma mesa de ping-pong ou fazer um dia de vestimenta informal no escritório se a gestão continua sendo feita sob pressão, com cobrança exacerbada por produção e, em muitos casos, com atos de violência moral”, aponta.

“Em um nível mais social, é importante reestabelecer os laços de confiança e solidariedade entre as pessoas – o que tem sido cada vez mais difícil em um mundo dominado por relações aceleradas, agravadas pela lógica algorítmica da vida. Buscar ajuda e apoio demanda as pessoas perceberem que existe uma dificuldade. Contudo, destaco novamente que ainda existem muitos estigmas relacionados às questões de saúde mental: as pessoas sentem-se envergonhadas, julgadas e, infelizmente, muitas vezes são ridicularizadas por sua condição. De toda forma, importante destacar que as pessoas procurem ajuda profissional caso percebam essas dificuldades” afirma Facas.

Observando os sinais

De acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio é um fenômeno complexo que pode afetar pessoas de diferentes origens, idades e identidades. Embora não haja uma fórmula exata para identificar uma crise suicida, reconhecer sinais de alerta é essencial. Para o órgão, “Indivíduos em sofrimento podem apresentar comportamentos como preocupação excessiva com a morte, falta de esperança, e manifestações verbais ou escritas sobre suicídio. Comentários como “Vou desaparecer” ou “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar” são sinais que não devem ser ignorados”.

“Além disso, pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, evitando contato social e reduzindo atividades que antes apreciavam. Fatores como exposição a estressores como agrotóxicos, perda de emprego, crises econômicas, e discriminação também podem aumentar o risco. É crucial estar atento a esses sinais e fatores de vulnerabilidade para oferecer suporte e buscar ajuda quando necessário.” ressaltam.

Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo é um momento crucial para intensificar a conscientização e a prevenção do suicídio, promovendo a saúde mental e o apoio mútuo. Neste mês, a Fenajud se une à causa, instituída em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), com uma campanha especial com o slogan “A DOR É SILENCIOSA – OUÇA. APOIE – Setembro Amarelo, em apoio àqueles que sofrem silenciosamente”, onde irá disseminar informações, oferecer suporte e fortalecer a rede de apoio emocional.

Juntos, podemos fazer a diferença e garantir que a mensagem de esperança e solidariedade alcance todos que precisam.

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