Uma das principais revistas científicas do mundo, a britânica The Lancet, publicou nesta segunda-feira (20) um artigo acadêmico que gerou otimismo em relação à produção de uma vacina eficaz contra o coronavírus. O brasileiro Pedro Folegatti, médico infectologista e mestre em Saúde Pública, é um dos autores do estudo, que apresenta resultados positivos de uma vacina contra o Covid-19 que está sendo testada pela Universidade de Oxford.
“O que os resultados preliminares mostram é que, sim, a vacina é segura ao não induzir efeitos colaterais graves em nenhum dos 1077 participantes que foram recrutados. E sabemos que, sim, existem diversos anticorpos sendo induzidos por uma ou duas doses da vacina. A qualidade desses anticorpos é boa, no sentido de que ele não só existe em quantidade suficiente, mas também é capaz de neutralizar o vírus. E induz também outro pedaço da resposta imune, que chamamos de imunidade celular por linfócito T”, disse Folegatti à BBC Brasil.
“Agora, o passo que precisa ser dado é saber se essa resposta imune que é induzida pela vacina é suficiente para garantir proteção contra o coronavírus”, completou o pesquisador.
Estima-se que seja possível iniciar a distribuição da vacina no final do ano ou no início de 2021. Por conta dos impactos da pandemia, se os resultados positivos dos testes se confirmarem nos próximos meses, a vacina poderá ter autorização para registro comercial em caráter emergencial, sendo liberada para produção em grande escala em tempo mais rápido do que os prazos normais previstos pela legislação do Reino Unido.
Reino Unido, África do Sul e Brasil já estão realizando testes com humanos. O fato de a contaminação no Brasil ainda estar em curva ascendente favorece a maior eficácia dos testes. Ao todo, 50 mil pessoas voluntárias estão sendo testadas com a vacina, das quais cinco mil são do Brasil.
Como funciona a vacina
Tecnicamente, a vacina sendo testada pela Universidade de Oxford é um vírus que foi geneticamente modificado para não oferecer riscos aos seres humanos. O vírus não é contagioso e não se replica no corpo humano, mas funciona como um “cavalo de Tróia” para atacar o Covid-19. Ao ser vacinada com esse “cavalo de Tróia”, o sistema imunológico da pessoa é estimulado a produzir anticorpos que servem também para inibir a ação destrutiva do coronavírus.
Os cientistas verificaram que 10% das pessoas testadas com a vacina apresentaram efeitos colaterais leves, como dor ou vermelhidão no local da aplicação ou sintomas de gripe, como febre. Uma médica brasileira que foi voluntária no teste disse ao portal G1 – sem revelar sua identidade, por questões de confidencialidade do experimento – que está contente por ser participante do momento “histórico” e se disse confiante na eficácia do trabalho de Oxford, que no Brasil tem colaboração da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Eu fico contente fico feliz, porque é uma coisa histórica que vai ficar aí para sempre, que vai ser contado para os filhos, para os netos, enfim, eu acho que é um privilégio poder participar. Eu estou tranquila, alguns colegas meus já tomaram, também desse hospital que eu trabalho. Um teve um pouquinho de reação, febre, dor no corpo, mas é esperado em qualquer vacina e os outros dois não sentiram nada, então, eu estou, na verdade, esperançosa. Eu confio na Unifesp, eu confio em Oxford, então, eu acho que estou indo bem tranquila”, declarou a médica ao G1.