Mulheres de diversas regiões do país participaram nos dias 29 e 30 de setembro de 2023 do 2° Encontro de Mulheres do Judiciário Catarinense e do 5° Encontro de Mulheres da Fenajud, em Florianópolis/SC, com o tema “Resistir, Lutar e Sonhar: Mulheres se organizam para viver”. O SINDJUD-PE marcou presença no evento representado por uma delegação com seis integrantes do Coletivo Flor de Mandacaru, contribuindo para o debate e potência da organização das mulheres na sociedade.
Ana Carolina Lôbo, Coordenadora de Comunicação e Imprensa do SINDJUD-PE e de Gênero, Etnia e Geracional da Fenajud, esteve na mesa de abertura do Encontro na noite da sexta-feira (29) e destacou em sua fala um aspecto fundamental sobre a história e legado das mulheres. “Nós também fomos e somos: artistas, escritoras, pintoras, trabalhadoras, sindicalistas. Nós sempre estivemos construindo a história!”, apontou a dirigente.
Sobre o encontro, Ana Carolina Lôbo avalia que esta foi uma oportunidade que “mobilizou o sentir das mulheres, as emoções, com as falas, com os momentos de música, de poesia, de apresentações artísticas. Mobilizou o fazer a partir do momento em que elas foram chamadas, cada uma, a dar sua contribuição para a colcha coletiva, que simbolizou a reconstrução do tecido da história das mulheres, como menciona Suzana Veiga a partir do texto da Rita Segatto”, refletiu.
A colcha coletiva mencionada reuniu frases e pensamentos das participantes do Encontro e foi construída de forma colaborativa, se utilizando das artes manuais, tão tidas como femininas e muitas vezes subvalorizadas. Os textos das estudiosas Ivone Gebara, Débora Diniz, Rita Segatto e Suzana Veiga estamparam a edição especial do caderno distribuído entre as participantes do Encontro, com o objetivo de estimular que cada uma possa tecer uma nova trama a partir de suas memórias enquanto mulher.
“As palestras qualificadíssimas nos colocaram para pensar em qual é o nosso papel dentro do movimento sindical e nos fazer ver que nós somos capazes de fazer o que fazemos”, complementou Ana Carolina Lôbo.
“A luta nos movimenta para viver: memórias de resistência”. Esse foi o tema da palestra de abertura realizada no 1° dia do Encontro por Anita Leocadia Prestes, figura de importância histórica para o Brasil; filha dos revolucionários Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e a alemã Olga Benario Prestes, nasceu numa prisão de mulheres na Alemanha nazista, onde a mãe foi executada. Com uma carreira dedicada à preservação da memória de luta de sua família, Anita preside o Instituto Luiz Carlos Prestes, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense e professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ. Na ocasião, a historiadora remonta o legado de sua avó e bisavó e o impacto que essas mulheres de luta tiveram em sua trajetória.
A servidora do TJPE Janayna Santos, que integra o Coletivo Flor de Mandacaru, enxerga o evento como “uma experiência incrível de reivindicar paridade de gênero no sindicalismo dos judiciários estaduais e assistir palestras e falas sobre feminismo plural. Obrigado ao SINDJUD-PE por proporcionar a uma servidora da base o acesso ao conhecimento de um sindicalismo plural com avanços para toda a categoria visando uma aposentadoria mais digna”, destacou.
Encerrando o 1° dia de atividades, as integrantes do Coletivo Valente (SC) apresentaram a última edição de sua revista e, após o jantar, foi realizado um sarau com apresentação da cantora e poeta Tayá Versa.
2° dia de Encontro
No sábado (30) pela manhã, as lutas das mulheres em diferentes espaços foram abordadas nas mesas temáticas, com espaço para debates e trocas entre as participantes. Na parte da manhã, a mesa “Resistimos e lutamos: somos trabalhadoras diversas” trouxe diferentes perspectivas sobre os desafios das mulheres, a partir de olhares de especialistas que abordaram como questões de gênero, classe, cor, deficiências e orientação sexual atravessam a vida e a luta das mulheres no curso da história e nos dias atuais, sobretudo no mundo do trabalho. O tema foi debatido e apresentado por Suzana Veiga, Doutora em História pela UFPE e pesquisadora da História das Mulheres; Manoela Veras, Internacionalista, mestranda em História Global pela UFSC e pesquisadora da História das Mulheres; Anahí Guedes de Mello, Doutora em Antropologia pela UFSC.
Para a servidora do TJPE Antônia Elayne, que esteve nos dois dias do Encontro realizado em Florianópolis, “participar de eventos com o Encontro de Mulheres da Fenajud e do Sinjusc me fez perceber o quanto que ao mesmo tempo o judiciário pode ser opressor e limitante do seu papel enquanto servidor e que você fica restrito a aquelas funções que você executa, como também o judiciário ele pode ser um incentivador da sua formação política, do seu engajamento nas pautas que realmente são importantes na nossa sociedade. É isso o que eu sinto sendo servidora do TJ Pernambuco, principalmente através dos eventos que o SINDJUD-PE tem promovido, especialmente participando do Coletivo de Mulheres, mesmo que seja uma participação mais de ouvinte, aprendendo com as mulheres que já estão nessa jornada de conhecimento, de aprimoramento, e eu aprendo com elas. Eu me espelho nelas”, afirmou.
À tarde, o painel “Lutamos e sonhamos: experiências e vivências de mulheres que se organizam” dividiu-se em dois eixos. O primeiro, “Mulheres em diferentes espaços de atuação”, trouxe a organização das mulheres dentro dos movimentos sociais. O momento contou com a participação de Sully Santos, mulher negra, mãe solo, estudante de Ciências Políticas na UNINASSAU, funcionária do SINDJUD-PE e integrante do Coletivo de Mulheres Flor de Mandacaru; Adriane Canan, Militante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), jornalista e mestra em Literatura Brasileira pela UFSC; Helena Quilombola (Quilombo Vidal Martins) Presidenta da ARQVIMA – Associação dos Remanescentes do Quilombo de Vidal Martins; Ingrid Sateré Mawé, mulher indígena semente da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade – ANMIGA.
Para Sully Santos, o Encontro foi um espaço de construção com potencial revolucionário. “Eu como boa defensora da ideia de que a revolução feminina está acontecendo minuciosamente em alguns lares, leio a experiência de participar do Encontro de Mulheres em Santa Catarina como uma construção coletiva, real e revolucionária, deixando imprimido no tempo e na memória trocas e fortalecimento. O poder de resistência da mulher passa pela necessidade de existir com dignidade e juntas fazemos isso com muita alegria e cabeças pensando alternativas e estratégias pra que a queda do patriarcado tome forma e aconteça”, disse.
A segunda mesa abordou o tema a partir da ótica das mulheres que já atuam no movimento sindical. Dirigentes dos sindicatos do Poder Judiciário de diversos estados explanaram sobre os desafios e as necessárias condições para que as mulheres atuem na política sindical de maneira qualificada. A mesa foi formada por Mariana Figueiroa, Coordenadora de Assuntos Jurídicos do SINDJUD-PE e da ASJB – Associação dos Servidores e Servidoras do Poder Judiciário Brasileiro; Andreia Ferreira (Sindijus-PR); Liliane Araújo (Sinjusc); Maria das Dores (Sinsjusto).
“Sonhar, resistir e lutar! Se existe algo mais potente que um encontro de mulheres eu desconheço. Porque é no coletivo que a gente faz a revolução. Como diz Lélia González: ‘no meio das mulheres que eu compartilho as dores e as alegrias da luta’. Saio mais fortalecida e feliz por ter compartilhado desses dias de reflexões e afetos ao lado de mulheres que admiro”, observou Mariana Figueiroa.
A servidora do TJPE Keilla Reis partilha um sentimento semelhante. “Participar de um evento desse, para mim foi muito importante. Foi perceber o quanto nós mulheres, servidoras, trabalhadoras desse judiciário podemos construir no coletivo. Foi um momento de aprendizado, um aprendizado rico. Foram palestras onde a gente pôde aprender sobre o sindicalismo feminino, a força e as formas de caminhos, estratégias que a gente pode usar aqui, enquanto coletivo. Então, foi um momento em que nós, enquanto base, eu e as colegas, podemos aprender a entender um pouco mais do nosso valor enquanto trabalhadoras do Judiciário, entender a força que nós temos para que a gente possa estar lutando pelos nossos direitos, dos outros e das outras”, enfatizou.
Plenária final e manifesto nacional
A plenária final foi construída após um momento de organização em grupos temáticos que debateram os eixos trazidos no encontro. A aprovação do manifesto (VEJA AQUI) lido pela presidenta do Sinjusc, Carolina Costa, com diversas reivindicações, marcou o encerramento das mesas, mas não do encontro, que ainda contou com intervenção artística de Tayá Versa e uma grande festa para celebrar a potência da luta das mulheres de ontem, de hoje e de amanhã.
Fonte: Sindjud-PE